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Contemplação no retiro

Gracinha leu João 10. 1-16 e não conseguiu terminar, pois chorava. Eu prossegui. Após o término Deus trouxe a minha imaginação um Pastor. Ele abria a porta de um aprisco (ou será que Ele era a porta do aprisco),  as ovelhas saíam para seguí-lo numa caminhada. De todas as ovelhas, porém, eu olhava com maior interesse e nitidez para três delas,  eis o que eu observei: A primeira ovelha quando saiu da porta passou a frente das demais e saiu correndo eufórica, saltitante, bem à frente do Pastor; A segunda colocou-se ao lado do Pastor, se bem que um pouco atrás e seguia os passos Dele como se seguisse em movimento cronometrado, passo a passo, tranqüilamente e satisfeita. A terceira estava bem atrás não só do Pastor como de todo o rebanho, mostrava-se lenta, cansada. Parecia sem condições para aquela caminhada.

Passei a observar o tratamento que o Pastor deu a cada uma delas e como estava seu semblante. O que Ele transmitia quando cuidava de cada uma.

A primeira, que era a saltitante  e aparentava distraída a ponto de tornar-se independente e precipitada, com um olhar terno e cheio de aceitação, o Pastor usou o seu cajado segurando-a pelo pescoço, arrastou-a para perto das demais, que se encontravam atrás  dEle.

A segunda, o Pastor   a olhava com um olhar de cumplicidade e ela entendeu aquela reação do Pastor para com a primeira ovelha, como se soubesse o que estava no coração dEle. Era como se pudesse compartilhar as coisas interiores, no nível de intimidade que só tem quem é um e não dois (foi assim que os interpretei).

A terceira, o Pastor voltou um pouco para apanhá-la (pelo menos foi o que eu esperei), porém, não foi esta a sua reação. Com um olhar compassivo e cheio de misericórdia, com um semblante de satisfação e aceitação tanto quanto havia mostrado para com a primeira e a segunda, Ele a pegou pelas patas dianteiras apenas com a sua mão direita e a arrastou para junto das outras.

 

Passei a meditar no que eu havia contemplado, e questionei:

– Qual destas ovelhas será eu?

E entendi que eu era as três. Foi assim que discerni. Muitas vezes apressada, precipitada, coloco-me à frente do meu Pastor achando que já sei o caminho por ter passado por ali outras vezes, mesmo que não intente sair de sob suas vistas, torno-me independente e acabo pecando conforme Pv. 19.2b. Ocupo um lugar que não é meu. Diante do seu povo vai o Senhor para lhes guiar os passos.

Algumas vezes consigo pela sua graça ocupar lugar atrás dEle dando passos cronometrados que me fazem compartilhar de coisas maravilhosas para mim. Consigo ver seu coração e aceitar suas atitudes compreendendo bem quem Ele é, e a necessidade de sua repreensão e conselho conforme João 15.15 e 17.21.  Jesus nos trata como amigos nos dando a conhecer tudo quanto ouviu do Pai e nos fazendo um com Ele.

Mas não são poucas às vezes que me sinto abatida, quase incapaz de acompanhar seu rebanho ainda que me esforçando, parece-me impossível acompanhar os passos do meu Pastor. Aí Ele vem e não percorre um caminho que é meu, mas pegando pela minha mão me ajuda na minha fraqueza, na minha falta de ânimo e fé, esforçando-me conforme Isaías 41.10 e usando a destra como eu contemplei para me esforçar (eu vi como se fosse o Senhor me esticando, puxando-me para frente, quando não há para mim esperança no meu próprio esforço, entendimento ou fé).

O que quero acrescentar é que, como contemplei o Pastor, o Senhor não muda quando eu mudo. Seu amor é imutável, seu caráter é imutável. Nele não há sombra de variação conforme Tiago 1.17. Ele é o mesmo quando trata comigo nas minhas debilidades, fraquezas ou quando me pareço com Ele, a sua atitude e intenção são sempre a mesma, atitude de amor, compaixão e alegria em eu ser ovelha do seu rebanho que ouve a sua voz e a quem Ele chama pelo nome.

 

Retiro da Igreja de Feira de Santana, 15.04.01.